domingo, 3 de agosto de 2008

A Implosão da Mentira

Mentiram-me.
Mentiram-me ontém
E hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
Que acho que mentem sinceramente.
Não mentem tristes,
Alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
Que acho que mentindo história afora
Vão enganar a morte eternamente.
Mentem, mentem e calam
Mas nas frases falam e desfilam de tal modo nuas
Que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
Mas não se chega à verdade pela mentira
Nem à democracia pela ditadura.
Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hirochima
E em Auschwitz havia um circo permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente,
Mentem como a careca mente ao pente,
Mentem como a dentadura mente ao dente,
Mentem como a carroça à besta em frente,
Mentem como a doença ao doente,
Mentem como o espelho transparente,
Mentem deslavadamente como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio
Mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
Mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre,
Mentem fabulosamente como o caçador que quer passar gato por lebre
E nessa pulha de mentiras a caça é que caça o caçador
E assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente,
Mentem incrivelmente,
Mentem tropicalmente,
Mentem hereditariamente,
Mentem, mentem e de tanto mantir tão bravamente
Constróem um país de mentarias diariamente.

Afonso Romano de Sant'Anna

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